Num estudo publicado em Cell, pesquisadores liderados por Zanvil A. Cohn e Ralph M. Steinman Professor Michel C. Nussenzweig da Universidade Rockefeller e seus colaboradores descrevem novos insights sobre quais células provavelmente abrigam, e não abrigam, esta ameaça oculta.
“Foi recentemente demonstrado que glóbulos brancos infectados podem proliferar com o tempo, produzindo muitos clones, todos contendo o código genético do HIV. Entretanto, descobrimos que esses clones não parecem abrigar o reservatório latente do vírus”, diz a autora do estudo Lillian Cohn, uma estudante de pós-graduação do Laboratório de Imunologia Molecular de Nussenzweig. “Em vez disso, nossa análise aponta para células que nunca se dividiram como fonte do reservatório latente”
HIV pertence a uma família de vírus que se inserem diretamente no genoma da célula hospedeira, onde podem se esconder calmamente após a infecção inicial. O HIV visa principalmente linfócitos CD4 T, um tipo de célula T envolvida em iniciar uma resposta imune.
Quando o HIV se integra ao código genético de uma célula CD4 T, ele pode produzir uma infecção ativa, seqüestrando a célula para produzir mais cópias de si mesma para infectar outras células, e matando-a no processo. Os medicamentos anti-retrovirais que suprimem a infecção pelo HIV funcionam interrompendo este sequestro. Mas o vírus também pode não produzir uma infecção activa, permanecendo um pequeno e silencioso fragmento de ADN escondido dentro do genoma da célula hospedeira. Se assim for, os medicamentos não têm nada a perturbar, e a infecção permanece latente.
Mais frequentemente, no entanto, o que acontece é, na verdade, algo no meio. Embora o vírus consiga entrar pelo menos parte dele no genoma da célula T, problemas com o processo deixam-no incapaz de seqüestrar a célula para se replicar. Mas essas poucas integrações bem sucedidas ainda causam danos, e o esgotamento resultante no sistema imunológico da vítima o deixa vulnerável a infecções oportunistas potencialmente fatais anos, ou mesmo décadas, após a infecção inicial.
“Se um paciente deixa de tomar antiretrovirais, a infecção se recupera. É realmente incrível que o vírus possa dar origem à AIDS 20 anos após a infecção inicial”, diz Cohn.
Pesquisadores pensam que o reservatório do vírus latente pode estar escondido em um tipo de célula CD4 T: células de memória de longa duração que ajudam o sistema imunológico a se lembrar de patógenos particulares. Quando estas células encontram um patógeno que tenham visto anteriormente, elas estimulam a proliferação de células T sintonizadas para reconhecê-lo, em um processo chamado expansão clonal. Pesquisas anteriores sugeriram que a expansão clonal é crucial para manter o reservatório latente do HIV.
Seguindo o trabalho iniciado por Mila Jankovic, uma associada de pesquisa sênior no laboratório, Cohn e seus colegas examinaram células T CD4 clonadas e únicas em amostras de sangue de 13 pessoas infectadas com HIV. Uma técnica analítica computacional desenvolvida por Israel Tojal da Silva, um associado de pesquisa no laboratório, tornou possível identificar locais de integração nos quais o HIV se inseriu dentro de células individuais.
“Dado o tamanho do genoma humano, é altamente improvável que o vírus se inserisse exatamente no mesmo local mais de uma vez. Assim, se várias células continham vírus com locais de integração idênticos, nós os classificamos como clones. Entretanto, se uma célula tinha um local de integração único, não compartilhado com nenhuma outra célula, então assumimos que a célula era única”, diz Cohn.
Os pesquisadores testaram 75 seqüências virais retiradas dos clones expandidos de células para ver se elas tinham o potencial de produzir mais do vírus. Nenhum poderia.
“Embora não possamos descartar a possibilidade de um raro clone de células conter um vírus ativo, parece mais provável que o reservatório latente – e o alvo potencial para terapias destinadas a curar o HIV – resida nas mais raras células únicas contendo integrações únicas”, diz Cohn.